1.17.2006

Pistoleiro, porque nao disparaste sobre quem devias?

Começando por colocar os pontos nos iis em relação à chamada "censura", queria aproveitar para dizer a todos que, devido ao que aconteceu no precedente blog, o saudoso "Opinário da Redondinha", a gerência sugere que levem discussões, picanços, respostas directas e tudo o que se enquadre neste segmento, para a secção dos comentários do post a que se referem, de modo a que o blog em si não começe a esquivar-se do bom pagode que queremos que seja.

Dito isto, passo a Elpídeo Silva, que hoje, em tom de despedida, proferiu as seguintes declarações:

"Foi uma rescisão amigável, que tentei desde o início... demorou um bocado mas consegui. Infelizmente estava um pouco esquecido, mas não por culpa minha. Não percebi por que é que me quiseram no plantel no início da época. Prenderam-me aqui e acabei por não ter oportunidades. Já estava à espera de rescindir desde o início do ano, mas só agora foi possível"



Ora cá está mais uma prova (não que fosse necessária) da habilidade de José Peseiro. Nem Silva, supostamente a pessoa com mais fé nas suas próprias capacidades, percebeu porque o quiseram de volta ao Sporting no inicio desta época. Liedson, Deivid e Pinilla (Douala e Sá Pinto seriam opções secundarias para uma posição tão adiantada no terreno) não seriam opções suficientes?

Em cada início de época ouvimos todos os treinadores, desde o mais consagrado ao que se esmifra por tentar uma quase impossível manutenção, desde o que tem milhões para gastar no plantel ao que só dispõe de um par de meias por atleta, desde um mestre Manuel Cajuda a um secundarista Professor Neca, invariavelmente a utilizarem a expressão “quero trabalhar com um máximo de 23/24 jogadores”. Mas José Peseiro, esse auto-intitulado visionário e vanguardista da arte da gestão futebolística não! Faz questão em ir contra o saber adquirido de décadas e décadas, de milhares de treinadores que aprenderam que demasiados jogadores, tal como jogadores insuficientes, é algo prejudicial à optimização do plantel. O “quase, quase” bem sucedido ex-treinador leonino entrou nesta nova época com quase trinta atletas: três laterais esquerdos (o que comprou para reforçar a posição acabou sendo o menos utilizado), um extremo esquerdo que vinha mesmo a calhar para um esquema perfeitamente definido sem alas abertas, um João Alves para suprimir a ausência do Rochemback (as parecenças entre os dois fazem-nos questionar se o papá de fábio não andou à aventura por terras lusas...), enfim...

Agradeço muito a este senhor ter-nos dado a ilusão de quase ganhar a taça UEFA, dado que o amargo de boca de a perder ao estender o braço para a alcançar certamente será melhor do que nunca lá ter chegado perto, mas fico sempre a pensar se a maioritaria quota parte do sucesso não deveria ser atribuída aos jogadores. Sim, Peseiro apostou em Moutinho e muito bem, mas quem não teria apostado em Moutinho? Será que se tivesse apostado em Moutinho no inicio da época teríamos tido um inicio menos tumultuoso, culminando com a conquista do título? Pedro Barbosa, Enakarhire, Moutinho, Custodio, Sá Pinto, Douala, Liedson, todos em boa forma a maioria da época, mais uma quota parte de sorte (Pinilla, Miguel Garcia) – indispensável às equipas ganhadoras, como um Porto contra o Man Utd, ou este mesmo Man Utd contra o Bayern -, levam-me a crer que Peseiro nada mais foi do que alguém no local e hora certas. Deixando cada mister no seu galho, faz-me em alguns momentos lembrar Boloni, que teve Jardel e JVP que levaram a equipa às costas até à dobradinha, tenho inclusivé apostado em jovens da cantera leonina, que qualquer outro treinador com meio dedo de testa também teria feito. Boloni viu o seu plantel dilacerado na época seguinte. Peseiro, com idênticas ou piores condições financeiras, ainda manteve a espinha dorsal (a dispensa de Pedro Barbosa e Rui Jorge foi uma opção sua segundo transpareceu cá para fora), tendo "reforçado" a equipa à sua imagem... Boloni conseguiu ganhar títulos e está agora a fazer um bom trabalho em Rennes. Peseiro, onde será o teu próximo "projecto aliciante"? Irás fazer-me engolir estas minhas palavras?

Termino em gesto de "fechar o círculo", voltando ao título deste post, e deixando essa mesma pergunta no ar: Silva, seu pistoleiro de pólvora seca, porque não disparaste sobre quem devias?

De todos me despeço com as melhores
Saudações Silvínicas