1.29.2006

Dinis com pneus slicks

Irrevogável, o facto do futebol português ter unido várias espécimes futebolísticas durante a década de 90. Espécies como o “atleta de classe mundial que espera ansiosamente por outros palcos”, como o “jogador que invariavelmente não vinga, apesar de se lhe apontar enorme potencial”, como o “carniceiro de categoria inter-galáctica que teima em não ser banido dos relvados”, como o “futebolista profissional com aparência de talhante e com uma mulher óptima”, entre muitos outros, como o “jogador protegido por um técnico e que o acompanha sempre para o novo clube” e como o “avançado que só por ser brasileiro tem lugar assegurado na frente de ataque”.

Ora neste meu post resolvi trazer duas figuras incontornáveis dessa saudosa época. Pode-se vislumbrar na foto o ingente contraste entre duas dessas castas futebolísticas, cuja diferença é mais atroz do que a existente entre o antigo Mário Duarte e o novo municipal de Aveiro. Pelo lado dos atletas de classe mundial que esperam ansiosamente por outros palcos, temos este marco dos miolos nacionais, Manuel Paulo Sousa, ainda de encarnado. A desafiar-lhe a posse de bola, temos o sempre beligerante Dinis Sousa Resende, figura de proa dos carniceiros de categoria inter-galáctica que teimam em não ser banidos dos relvados, na época a envergar a camisola dos canarinhos de ovos moles. A imagem é, por si só, elucidativa das diferenças técnico-tácticas dos dois atletas, quanto mais não seja pela total ausência de técnica em Dinis.

Alguns adeptos saíam do estádio com "síndrome pós-Dinis"







Quero aproveitar também para tecer algumas observações, pois a imagem aqui apresentada tem muito que se lhe diga e eu não quero que certas coisas passem em claro ao olho desarmado do mais incauto adepto. Trata-se de um jogo durante a estação seca, como se pode ver, o que beneficiaria o espectáculo em termos futebolísticos, isto se a qualidade dos atletas assim o permitisse. Imaginem, no entanto, se se tratasse duma estação mais molhada. Dinis, com a mesma velocidade e decisão, mas sem tracção e com a visibilidade reduzida (os cabelos nos olhos são uma das principais causas da elevada taxa de fatalidade nos nossos relvados segundo os mais recentes dados disponibilizados pelo INE), certamente que "colheria" o antigo internacional luso, terminando-lhe precocemente uma já por si curta carreira, e devido ao estado ensopado do relvado, seguiria campo fora, deslizando descontroladamente, indo de encontro a uma multidão que, como sempre, não está devidamente acondicionada e à salvaguarda de acidentes deste género. Como um carro num rally a entrar pela multidão e projectando tudo e todos pelos ares, também Dinis entraria de carrinho no meio das bancadas do Mário Duarte, atropelando, consecutivamente, familias inteiras que nada mais queriam senão uma tarde de domingo bem passada, antes de levarem a avó a jantar fora ao café central. E, no final, como já devem ter adivinhado, nem o amarelo lhe era mostrado, ficando-se o senhor árbitro pela admoestação verbal. No entanto Dino, o prolífico avançado aveirense, depois de ter marcado um golo e ter levado o público ao júbilo, tirou a camisola para celebrar, tendo visto o segundo amarelo e a consquente ordem de expulsão.

Deixo-vos, com os mais sinceros votos de que tenham lido as linhas acima com o mesmo sorriso sarcástico e malicioso com que eu as escrevi.

Saudações Silvinicas ao verdadeiro Dom Dinis, o ceifeiro.